Se tudo fosse: - "Eu te amo. Você me ama?" Resposta: "Amo". Pronto!
Seria simples. E foram felizes para o resto da vida. Quando tal diálogo
acontece e duas pessoas percebem que se amam, aí a dúvida e a confusão
não terminam. Começam! Não está disposto na lei da vida que duas pessoas
que se amam, saibam amar. O normal é as duas não saberem. Raro é as
duas saberem. O habitual é uma saber e aguentar o rojão pela outra.
Saber amar! Quanta gente prefere viver com alguém que sabe amar, mesmo
que não o ame! Quanto amor pode brotar da relação com quem sabe amar!
Quem sabe amar, pode até realizar o milagre de acabar recebendo o amor
de quem não o ama, ou ama e não sabe. Saber amar é conhecer o amor como
forma de arte. O amor é apenas um sentimento, enquanto que saber amar é
uma criação, visão estética do amor. Tanto é flor na hora certa, como
presente fora de hora. Saber amar implica conhecer sabedorias que o amor
não sabe, como esperar, deixar fluir, não invadir as dúvidas do outro,
não abafar nem impedir que a outra parte supere a fossa, a angústia ou a
dor que a oprime. Quem ama desama junto. Quem sabe amar, por conhecer a
medida exata dos orgulhos que valorizam o amor, suporta tal sentimento,
desde que seja passageiro, é claro. Quem ama, quando cansa, pode voltar
a amar. Quem sabe amar quando desliga é para sempre. É mais fácil
afrontar a quem ama do que a quem sabe amar. Este, conhece tanto a
importância do seu sentimento, que quando o retira, machucado,
incompreendido ou ferido de morte, é para sempre. Cuidado com quem ama!
Mas cuidado maior com quem sabe amar! Quem perde um amor perde menos do
que quem perde alguém que sabe amar. Saber amar não é depender. Não é
ser servil. Não é viver agradando. Não é fazer o que o outro quer. Saber
amar é ter as reações certas, de compreensão e crítica; é ocupar todo o
seu lugar no espaço e no tempo do sentimento e da emoção do outro.
Saber amar é até saber desistir. Saber amar é aquela parte que, partindo
do amor, procura (até encontrar) a parte do outro que um dia saberá
amar. E a encontrando tem paciência, afeto e tolerância. A menos que
descubra que ela não merece. Porque saber amar é também ter a coragem
das renúncias, bravura raramente em quem, apenas, ama.
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